O presidente do BPI defendeu, em Maio de 2013, o confisco dos depósitos acima de 100 mil euros, tal como aconteceu no Chipre. Isso como forma de educar os depositantes a serem “mais selectivos na escolha dos seus bancos e constituiria uma pressão a favor de melhorias na gestão dos bancos”.
Quanto é que issa daria e será que hoje ele defenderia o mesmo? Não se sabe, mas cada vez mais a situação do sistema financeiro parece tornar actual o que, na altura, o era apenas para o Chipre. Será que a UE não irá encaminhar-se em Portugal para uma solução à la Chipre? E será que vão a tempo, ou esse capital já voou? “Benditos” offshores, não é?
Em Junho de 2013, os dados publicados pelo Fundo de Garantia de Depósitos – fundo público que garante o reembolso da totalidade do valor global dos saldos em dinheiro de cada depositante, até ao limite de 100 000 euros por depositante e por instituição – davam uma ideia do impacto que essa medida poderia ter:
–> Havia 158,3 mil milhões de euros em depósitos, dos quais 117,4 mil milhões abrangidos pela missão do FGD (74%), correspondentes a 16 milhões de depositantes. Mas o FGD apenas tinha 1,5 mil milhões de euros para a sua tarefa de salvaguarda de depósitos.
–> A estrutura dos depósitos era a seguinte:
< 10 mil euros 82% dos depositantes 14,2% dos depósitos
Entre 10 e 25 mil euros 10% dos ” 16,1% dos ”
Entre 25 e 50 mil euros 4,6% dos ” 16,2% dos ”
Entre 50 e 100 mil euros 2,2% dos ” 15,5% dos ”
> 100 mil euros 1,2% dos ” 38% dos ”
Ou seja, se desde então pouco se alterou – o que não deve corresponder à realidade – então existe uma quantidade diminuta de depositantes com depósitos acima de 100 mil euros (1,2%, ou seja, uma centena e meia de milhares), se bem que a sua parcela no total de depósitos seja considerável – acima de 60 mil milhões de euros. Mesmo assim, os depósitos à salvaguarda do FGD são em dimensão muito superior aos fundos do próprio FGD.
Essa discrepância, que geralmente pouco se considera – uma vez que a confiança mantém o sistema em funcionamento sem perturbações – está revela contudo a fragilidade em que assenta o sistema financeiro. E resta questionarmo-nos o que poderá acontecer se a gestão do sistema bancário é deixada, desreguladamente, ao quase livre arbítrio de pessoas sem escrúpulos, quando – como diz o próprio governador o disse – situações fraudulentas são de difícil detecção.
No fio da navalha é onde ainda estamos.