O que é aflitivo é que ninguém vê como vai Portugal crescer no futuro. Essa é a grande lacuna deste OE para 2014. O Governo optou por decretar que vamos crescer 1% em 2014 (apesar da dose industrial de austeridade que aí vem). Claro que a meio do ano lá teremos mais austeridade para pagar os erros de cálculo de Maria Luís Albuquerque, tal como está a acontecer agora em 2013 e já aconteceu antes com Vítor Gaspar. Mesmo que nos safemos do primeiro programa e venha um segundo com um nome diferente para não assustar os mercados e salvar a cara a todos, expliquem-nos como é que vamos crescer e absorver 18% de taxa de desemprego. Para onde vamos? Substituir importações que – mercê da política da UE que beneficiou multinacionais instaladas nos países terceiros, interessadas em vender na Europa – vêm de todo o mundo a custo quase zero e sem barreiras à entrada? Aumentar as exportações? Como? Com que produtos? Acham realmente que a descida de uns pontos da taxa de IRC vai ajudar alguma coisa? A reforma de IRC vai trazer, sim, mais dinheiro aos escritórios de advogados, de onde veio o secretário de Estados dos Assuntos Fiscais, mas menos dinheiro ao Estado. E escrevam: vamos pagar ainda pelos custos orçamentais desta reforma, porque os tais benefícios da reforma não vão chegar. Só que nessa altura Paulo Núncio estará bem instalado, a Pires de Lima não lhe faltarão convites, Maria Luís irá para o estrangeiro, Paulo Portas voltará às feiras a desmultiplicar-se em argumentos justificativos das 30 cambalhotas que deu. Mas e nós?