À medida que se conhecem os contornos da decisão sobre o BES, mais se alarga o terreno das dúvidas. E pior: mais dúvidas surgem sobre a razão das opções tomadas. E do quando foram tomadas e comunicadas.
É importante conhecer todos esses factos. Até para se poder construir uma alternativa àquilo que já se antevê.
1º passo: esse é o passo certo: o Estado entra em acção;
2º passo: os bancos do sector financeiro nacional tentam posicionar-se no novo banco, até para poderem participar naquilo que vai ser a “reestruturação” do novo banco, presentemente nas mãos de entidades tão opacas que ninguém sabe quem são. Que activos ficam de um lado e do outro? O que pode ser mais atraente? E mais atraente para quem? Será que a “reestruturação” pode ser feita independentemente do alvo que se procura? E se não pode ser independente do alvo que se procura, quem é o alvo preferencial da actual administração nomeada pelo Banco de Portugal? A quem se prefere vender o novo banco? E com que fatias? Tudo está já em marcha sem que ninguém tenha uma palavra a dizer, mesmo que todos estejamos a pagar.
3º passo: quem são os concorrentes internacionais? Vai haver – com certeza – bancos interessados em deter a elevada quota de mercado que o BES tinha. Cerca de 11% dos depósitos nacionais e 20% incluindo entidades com sede no estrangeiro. Veja-se a acta da reunião de administração do Banco de Portugal e percebe-se o que está em causa. É que não é só o risco sistémico: é uma fatia considerável do bolo do sistema financeiro que está a ser disputada entre o sector privado e servida pelas autoridades. Quem vão elas privilegiar? Até porque o governador do Banco de Portugal passou a ter o poder de negociar por ajuste directo. Isto graças ao famoso decreto-lei aprovado na “clandestinadidade” do Conselho de Ministros.
Por tudo isto, era de máxima importância que a reestruturação do banco novo fosse avocada pelo Parlamento. E que todos os documentos relativos a ela pudessem estar disponíveis.
Era a única forma de poder haver transparência numa matéria tão sensível.
Senão meia de dúzia de pessoas vão decidir por todos nós. E claro está, as Goldman Sachs desta vida ganharão a batalha.