Que a situação do emprego em Portugal é lastimável já se sabia. Basta ver o documento divulgado ontem pela CGTP. A grande dúvida é saber o que se vai passar nos próximos tempos. O Governo multiplica-se em comentários a realçar que a economia inflectiu já e que vem a recuperação. Mas a melhoria dos indicadores, melhorará o emprego?
No sábado passado – estranho momento para divulgação de números oficiais – o Instituto de Emprego e Formação Profissional, organismo público responsável pela política de emprego, divulgou os valores mensais dos centros de emprego referentes a Dezembro passado. O que há de novo? Possivelmente nada de especial que não se visse no dados passados.
O número de desempregados registados terá voltado a baixar, atingindo 690.535 pessoas. Em Dezembro terá sido de menos 2,8% do que em igual mês de 2012. Mas quando se olha para os valores dos novos desempregados que se inscreveram nos centros de emprego ao longo de Dezzembro, foram mais 57.803 pessoas, ou seja, mais 6,7% do que em igual período de 2012, embora menos 15% do que no mês anterior.O que está a acontecer?
A evolução da inscrição dos novos desempregados tem um comportamento um pouco errático, de difícil leitura quando se olha para o gráfico. Portanto, tentei “alisá-lo”, através de uma média 3 meses. O que se verifica é que o desemprego registado – aquele que é divulgado pelo IEFP – está a descer, enquanto o novo desemprego está a subir. Primeiro: como é que isso pode estar a acontecer? Segundo: o que se retira daí?
Isto passa-se porque o desemprego registado – o divulgado pelo IEFP – é já o resultado de inúmeras operações administrativas que resultam na anulação de inscrições de desempregados. Seja por “boas razões” – porque o desempregado encontrou emprego, reformou-se, emigrou, está a receber formação – seja por más razões – foi alvo de notificações a que não respondeu, está em programas que o obrigam a desenvolver actividade (muitas vezes para o próprio Estado, a cumprir funções permanentes e apenas recebendo o subsídio de desemprego e subsídio de alimentação), etc.
Ora, caso se queira entrar em linha de conta com todas essas pessoas, já que poderão dar uma ideia mais aproximada do volume de pessoas que vem ter aos centros de emprego e a dimensão dessas anulações todas, então há que somar sempre ao desemprego registado, os novos desempregados e subtrair as colocações. O resultado é o gráfico que se vê em cima. O hiato entre as duas curvas é o volume de anulações de inscrições de desempregados. Mas a questão inicial volta a colocar-se: as duas curvas parecem estar a atenuar-se. Mas será isso o sintoma de que o desemprego se reduz?
Quando se junta os valores divulgados pelo organismo estatístico nacional, o INE, os valores do INE são bem mais elevados do que os do IEFP. Em parte, essa diferença terá a ver com a natureza administrativa da produção de números. Só que a tendência parece ser a mesma. Uma ligeira atenuação dos valores do desemprego nos últimos trimestres com uma leve atenuação dessa redução. E ainda se desconhece os valores do INE do último trimestre de 2013. E 2014 promete ser um ano difícil, com milhares de funcionários públicos a ter um corte dos seus vencimentos e os pensonistas a levaram novo corte nas pensões. Será que essa tendência se manterá?
E será que os níveis de actividade serão suficientes para absorver a montanha de desempregados?
Para que o desemprego comece a ser absorvido, a economia terá de crescer a 1,5-2% ao ano em termos reais. Ora, Portugal está muito longe disso. E mesmo antes, antes da crise actual, o crescimento económico sempre foi anémico, ao ritmo do pulsar da UE, e no caso nacional marcado por uma sobrevalorização do Escudo face ao Euro.
Portanto, o que será do nosso futuro, mesmo com programa cautelar ou sem ele?
Actualmente, a situação do desemprego é muito mais vasta do que a do número de desempregados. Quando a crise se prolonga por muitos anos, como a portuguesa, as pessoas tendem a movimentar-se no mercado de trabalho e nem sempre para situações que lhe agradem. Usando os valores que o INE disponibiliza como indicadores complementares do desemprego, verifica-se o seguinte:
As situações de desemprego e subemprego atingem já 1,4 milhões de pessoas. E verifica-se uma passagem em termos estatísticos daqueles que estão desempregados para os inactivos. Como é visiível no gráfico acima, continua a crescer o número daqueles que, apesar de quererem trabalhar, já não procuram (inactivos disponíveis que não procuram trsbalho). Entre esses, estão os desencorajados.O seu número tem vindo a crescer desde 2011. Eram 60 mil no 1.º trimestre de 2011 e passaram a 126 mil no 3.º trimestre de 2013.
E isto sem contar com as que saíram do país. Veja-se a evolução da população por escalões etários:
Face a uma dada situação em Março de 2011 (base = 100), o número de jovens até aos 34 anos diminuiu rapidamente e essa diminuição só pode estar associada com uma saída do país. É impressionantemente assustador. Só nestes escalões, a redução atingiu os 193 mil pessoas desde Março de 2011.
Os próximos tempos serão, pois, decisivos para saber-se qual a evolução do emprego e do desemprego. E com ele em parte o que será o futuro próximo do país.