Suprema ironia.
Quem pugnou na década de 90 por criar um Escudo forte, como forma de estar no “pelotão da frente”,ligando a moeda nacional ao Marco alemão; quem apoiou a adesão do Escudo ao Euro a partir de 2000, com acesso fácil a crédito barato, sem “risco-país”, mas que, na realidade, fez a taxa efectiva de câmbio do Escuro valorizar-se 13%, degradando assim a competitividade das nossas vendas externas, ao mesmo tempo que aumentou o financiamento à população; essa mesma pessoa vem nesta década chamar a atenção para os desequilíbrios externos de Portugal e para a elevada “financeirização” da economia nacional.
Escreve Cavaco Silva no seu famoso prefácio:
“Em primeiro lugar, há que ter presente o diagnóstico, saber como chegámos a uma situação para a qual, em devido tempo, alertei os Portugueses. A principal razão da crise portuguesa reside na acumulação insustentável de desequilíbrios das contas externas – entre 2005 e 2010, o défice anual foi, em geral, superior a 9 por cento do PIB – e no consequente aumento do endividamento do País para com o estrangeiro e do respetivo encargo de juros. O saldo devedor da nossa Posição de Investimento Internacional, que corresponde grosso modo ao grau de endividamento líquido da economia para com o exterior, subiu de 67,4 por cento do PIB, no fim de 2005, para 107,2 por cento, em 2010. Na base destes desequilíbrios – traduzidos na vulgar expressão “Portugal vive acima das suas possibilidades” – encontrava-se o excesso de endividamento do Estado, das empresas e das famílias, e a perda de competitividade externa da nossa economia.”