A razão antes de tempo

1 Posted by - April 9, 2014 - Blog

É ingrato ter razão antes do tempo.

Primeiro, foi a Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Divida Pública que, desde 2011, tenta fazer entrar no debate público o problema da impossibilidade de pagar a dívida. E teve não apenas o silêncio do eco vazio, como a violenta reacção contra da opinião dominante dos opinion makers. Passos Coelho, Vítor Gaspar repetiam à exaustão “não queremos nem mais tempo, nem mais dinheiro”. Diziam isso para o povo, mas nos conselhos europeus iam passando a ideia de que seria preciso algumas modificações (vidé conversa entre Gaspar e o ministro alemão).

Depois, chegou mesmo o momento de o próprio Governo vir a terreiro defender – não a “reestruturação” nem a “renegociação – mas a grande vitória da política seguida que foram as melhorias nas condições de regularização da dívida, concedidas pelos credores. Não era uma derrota, era uma vitória, um sinal da credibilidade conquistada por Portugal, pelo “esforço orgulhoso do povo português”.

Mais tarde, e ao fim de três anos – e foram necessários os efeitos devastadores de três anos de austeridade! – surgiu o Manifesto dos 74. E aí, a reacção no mercado da opinião dividiu-se.

Finalmente, começa a surgir no seio dos próprios a assunção pública de que algo terá de ser feito porque, tal como está, é impossível pagar. Veja-se o caso do FMI. Mas a questão é porquê agora.

Há anos que essas contas eram possíveis de ser feitas. Não era preciso tanto sacrifício. Algo mudou. E resta saber se o que está a mudar não é precisamente a consciência de que, um dia, os países devedores como Portugal, colocarão sobre a mesa a cartada forte: ou continuam a exigir que paguemos e temos de sair do euro; ou então vamos negociar. E creio que o que está em causa é o início da antecipação dessa fase última que ninguém quer discutir, porque não se sabe como acabará. Porque resta saber se quem tem mais a perder serão países como Portugal ou se não será a própria Alemanha que terá de assumir o seu marco alemão valorizado. E um novo rearranjo da Europa. E veremos então Durão Barroso, sempre tão capaz de apagar o passado nas fotos, a fazer o número de que sempre estivera do lados dos devedores e que sempre defendeu a necessidade de uma reestruturação da dívida., quando na realidade sempre fez o contrário.