O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, mostrou, em poucos dias, ser um homem de fraca memória. Mas não se trata do único caso polémico.
Há cerca de ano e meio, Carlos Costa, já então governador, foi ouvido em tribunal, como testemunha no processo aos dois presidentes do BCP Jardim Gonçalves e Filipe Pinhal e dois ex-administradores do banco, Christopher de Beck e António Rodrigues. Tratava-se de manipulação da cotação de acções do BCP, entre 1999 e 2007, através sociedades financeiros, com sede no offshore das ilhas Caimão.
De 2000 a 2004 e na altura desses acontecimentos, Carlos Costa era o director-geral do BCP para a área internacional. E, apesar do seu cargo, Carlos Costa afirmou nada saber sobre esses veículos (aqui e aqui e aqui)
“Estou num estado de ignorância porque não sabia desse facto que a senhora procuradora me acaba de relatar”, disse Carlos Costa. “Só tive conhecimento da existência destas ‘offshore’ no dia em que fui testemunhar”, garantiu. Carlos Costa insistiu desconhecer qualquer prática ilícita, porque nunca compreendera as ‘offshores’ como um bloco e sim como clientes individuais. A procuradora Teresa Almeida chegou a compará-lo apenas a “um funcionário de balcão que confere”,o que irritou Carlos Costa: “Não sou um capataz de confiança” respondeu à procuradora.
«Foi um depoimento relevante para esclarecer que o regime de concessão de crédito [às sociedades offshore do BCP] era um modelo lícito, e mesmo conhecido, do Banco de Portugal», afirmou Rogério Alves, advogado de defesa de António Rodrigues, antigo administrador financeiro do BCP.
O antigo presidente do BCP, Jardim Gonçalves, e os ex-administradores Filipe Pinhal e António Rodrigues foram condenados, já este ano, a dois anos de prisão com pena suspensa pelo crime de manipulação de mercado (aqui).